Por motivos muito meus, criei defesas e barreiras contra o cancro. Em especial o da mama. Se por um lado consigo falar dele com a maior naturalidade, por ter feito parte da minha vida durante demasiado tempo, por outro lado, e ao contrário do que seria de esperar, não consigo fazer os auto-exames tão simples, preventivos e obrigatórios.
Nos mais de dez anos após ter perdido a pessoa mais importante na minha vida para o cancro, foram raras as vezes que fiz um auto-exame. Apesar da consciência da sua importância. Mas simplesmente nunca consegui fazê-lo de forma natural. Parece que os meus braços e as minhas mãos não correspondiam às ordens dadas pelo meu cérebro.
O que é ridículo, já que durante esse período tanto eu como a minha irmã fizemos inúmeras mamografias e ecografias mamárias, por causa do historial familiar e nunca tive problemas com isso.
Há pouco mais de um ano (e parece que foi numa outra vida) a sombra do cancro pairou sobre a minha mama.
Um sangramento num dos mamilos fez-me descobrir uma especialidade médica que não conhecia – Senologia. Optei por tentar descobrir o que se passava comigo antes de informar a família. Para os poupar a eles, mas também a mim. Sabia que a partir do momento em que se soubesse da possibilidade de estar doente não teria descanso. Sei que pode parecer ingratidão, mas a última coisa que precisava era tornar esta situação o centro dos meus dias.
Com as típicas mamografias e ecografias não foi possível detectar nada. O exame que fiz de seguida – uma galactografia – foi muito mais interessante.
O que teve de assustador teve de cómico. Simplificando o que não pode ser simplificado, consistia em fazer uma mamografia com uma agulha espetada num canal do mamilo (onde o sangramento tinha origem) enquanto era injectado um contraste. Mas quando um exame destes é feito com a melhor equipa possível, ainda dá aso a gargalhadas, entre um quase desmaio e outros momentos mais sérios.
A ironia deste exame é que “apenas” permite detectar se existe ou não tumor no ducto/canal mamário, não sendo possível perceber se é maligno ou não.
Isso só é possível com cirurgia e removendo o tumor, que será analisado posteriormente.
Deste meu processo apenas ficou uma cicatriz mínima, sem consequências nenhumas. As outras cicatrizes, as que marcam mesmo, já cá estavam, mas não são minhas.
Não fiquem à espera de um sinal para fazerem rastreio. E, como diz a Z., façam-no em Outubro ou em qualquer outro mês, mas façam-no.
E eu, não por ser Outubro, mas porque passou um ano, vou marcar os exames de acompanhamento.