tu. tu quebraste-me. do primeiro ao último segundo.
chegaste cá a casa, quase que por acaso. no dia seguinte insististe em voltar. não houve margem para dúvidas. adoptaste-nos com unhas e dentes. como se nunca tivesses (sen)tido o calor de uma família. o conforto de um lar. e ao primeiro contacto, não deixaste escapar. ao contrário do que era espectável mostraste-nos que este era o teu lar. que nós eramos teus.
nunca estragaste nada nesta casa. nunca roeste um chinelo. tratavas os teus amigos de borracha com carinho e delicadeza… o Pumba, o Toni. tinhas receio de os magoar a cada guincho que davam quando os tentavas agarrar com a boca.
tinhas duas fraquezas…
uma maior do que tu. a comida. pela comida quebravas todas e quaisquer regras. por um bom prato de comida, acho que nos vendias :)
a outra… a outra era uma festa. a rega automática. lembraste? estive tentada a dar-te esse último presente, mas soube que já não ias aguentar. ou seria eu?
era sempre uma fita quando perguntavam o teu nome. ninguém percebia à 1º. à 2ª ou 3ª tentativa fingiam que tinham percebido… a verdade é que nem eu percebi o nome que trazias da rua e registei-te mal. a verdade é que nem precisavas de um nome para vires a nós. respondias a qualquer som que te soasse a um chamado. foste gata, foste badocha, foste foquita. foste tudo. foste nossa. “toma” era o que recebias melhor. fomos teus. todos os que passamos pelo teu nariz. fomos teus.
sabes, durante muitos anos mudaste a minha vida. não existiram tapetes na nossa casa. não andei descalça em casa. a comida continua a não ser colocada à “pata” de semear (lembras-te das 10 almondegas congeladas que aspiraste na primeira semana?). o chão deixou de ser encerado (a cera era demasiado apetitosa, não era?). uma cama em cada divisão.
ainda não me habituei a (voltar) gostar de trovões e de foguetes. sei que não gostavas deles (a menos que houvesse comida, claro).
conquistaste-nos. conquistaste-nos a todos.
preencheste um bocadinho de mim que nunca mais será preenchido. que nunca será esvaziado.
quebraste-me quando entraste por esta porta no primeiro minuto.
quebraste-me como não costumo deixar que me quebrem.
quebraste-me quando adormeceste no meu pé. no último segundo.